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COLUNAS 24/10/2020

COLUNA CANTO: Impresso

Por Darlan Jevaer Schmitt

Historiador e professor, servidor técnico-administrativo

 

Há aproximadamente um ano e meio, comprei o meu primeiro suporte para leitura digital. Quando o vi pela primeira vez na mão de um amigo, fiquei curioso e explorei bastante as possibilidades daquele aparelho e como seria uma leitura naquele instrumento. Há muitas vantagens para quem é leitor assíduo: as facilidades de acesso a títulos e formas de pagamento eram incríveis. E tudo na mão, com um clique! Formato de livro, páginas digitais para navegar. Mas, ainda assim, estava desconfiado. Como ficaria minha relação com o livro impresso? E com o papel?

 

Acredito que, provavelmente, vocês nem tenham percebido, que esta coluna, entrou para o grupo dos que não serão mais impressas em papel (pelo menos, por enquanto). Impressão tem custos e toda uma logística que torna a “tipologia” papel ser cada vez mais desafiadora de ser mantida. Porém, cada vez vemos impressos migrarem para o suporte digital, ou até deixarem de circular, sumindo.

 

Já faz um ano que certo jornal tradicional e de circulação regional deixou de publicar suas diárias edições impressas, limitando-se a publicar, todo fim de semana, uma edição impressa, praticamente uma revista de variedades que traz informações de todo o Estado catarinense e nos apresenta ainda alguns colunistas desta região. Até alimentam as suas mídias digitais com informações. Mas impresso, é só isso.

 

Tenho a edição Piloto Número Um (de 11 de setembro de 1971) deste Jornal que deixou de circular impresso em 16 de outubro de 2019. Esta edição foi presente de um querido amigo, que sabe de minha admiração pelo impresso. Quando garoto, sempre que podia, comprava uma edição deste Jornal e ficava lendo dias depois. Nos fins de semana, havia o Jornal do Vovô Chopão (personagem alusivo à Oktoberfest) encartado, o qual trazia muitas atividades para crianças, como desenhos para colorir. Já adolescente, vinha das festas de sábado no domingo de manhã e parava na padaria para comprar a edição de domingo. Classificados, página de cultura, política local, tudo muito bacana de ler e saber.

 

 

Fragmento de uma “Edição Piloto Número Um” de um Jornal Impresso, de um acervo pessoal.

 

 

Fui assinante durante dezessete anos e um pouco antes do fim da circulação diária, cancelei a assinatura por rearranjo do orçamento nas despesas da casa. Além desse motivo, já vinha percebendo uma perda da qualidade do jornal como um todo, salvando a maestria de jornalistas e colunistas locais. De vez em quando, ainda comprava uma ou outra edição. Hoje, edição diária, só na página virtual do Jornal, que mantém as notícias atualizadas, ou, ainda, em pesquisa no Arquivo Histórico José Ferreira da Silva, que tem todas as edições até o dia 16 de outubro de 2019.

 

Os jornais impressos têm sofrido com a constante queda do número de leitores e de vendas de suas edições em papel próprio, que, aliás, não por acaso, chamamos de papel – jornal. Vários deixaram de ser impressos no Brasil nos últimos anos ou reduziram consideravelmente sua quantidade de edições diárias. A velocidade da notícia digital parece não ter dado chance aos jornais. Tudo é muito rápido e essa velocidade faz com que aquilo que chegaria amanhã de manhã, perdesse quase completamente o sentido.

 

O jornal impresso nos proporcionava tempo de digerir a informação, pensar e raciocinar sobre os fatos ali apresentados. As tais “fake news” encontrariam mais dificuldade de propagação com o impresso (mesmo assim, acontecia, todos sabemos). 

 

Pensando sobre a notícia, a possibilidade de ser manobrado se apresentava como algo mais difícil. Dava tempo de conversar sobre o assunto com amigos, colegas de trabalho, na praça ou na padaria. Agora, com o digital, ainda dá para fazer tudo isso, graças aos smartphones. No entanto, uma informação come outra, que come outra e mais outra,sem que você tenha pensando sobre o que ela realmente estava transmitindo.

 

Não quero aqui dizer que sou contra a tecnologia ou as milhares de páginas que alimentam de notícias nossos minutos de vida, mas sou a favor de uma conscientização da informação, ação que acredito que só o jornal impresso e o rádio conseguem fazer. Sei que é difícil competir com o mercado digital. Ler jornal impresso, ficou fora de moda; coisa de pessoas mais velhas. Os jornais impressos não estavam mais nem sendo usados para embrulhar peixe ou para animais de estimação fazerem suas necessidades. Tornou-se, para muitos, um objeto obsoleto.

 

Torço para que o jornais voltem a ser impressos (repaginados e atualizados, é verdade). Torço para que o jornal regional, ao qual me refiro neste texto, também volte a ser impresso e diário. Torço para que a notícia (mesmo a digital) volte a fazer as pessoas pensarem com mais calma, mais serenidade. Porque não adianta o papel voltar, para ser classificado a partir da ignorância como imoral, persuasivo ou ameaçador. Em outros tempos, vimos papéis sendo queimados porque pessoas não queriam entender o que ali estava escrito.

 

E, em tempo, adaptei-me muito bem ao suporte para leitura digital. Já li muita coisa legal nele. Mas também já li paralelamente muita coisa legal em livros e jornais culturais impressos*. Uso o digital, mas não abandono e não deixo de defender o papel impresso.

 

*Em tempos pandêmicos, toda leitura foi bem-vinda.

 

 

Bem no Cantinho


Decidi não falar da Pandemia causada pelo vírus, a tal Covid-19. Porque você já sabe. Você já sabe que estamos em isolamento desde meados de março; que tivemos que aprender a dominar novas tecnologias; que estamos trabalhando muito virtualmente; que muitas pessoas perderam seus empregos; que as prefeituras liberaram muitos serviços (e agora possivelmente vão precisar fechar de novo); que todos estão usando máscaras e quem deveria dar o exemplo e usar, não usa. E ainda, que estamos com saudades de um abraço; que o esgotamento psicológico apareceu, foi embora, apareceu de novo; que devemos ficar em casa (sempre que possível) e respeitar o máximo possível o isolamento (sim, ainda!); e, que não sabemos quando tudo isso volta ao normal (ou o “novo normal”!?). Porque, o amanhã, depende disso. Então, ratifico que decidi não falar da Pandemia causada pelo vírus, a tal Covid-19. Porque você já sabe.

 

 

Canto da Cultura


Leide, aqui ainda dói. Você faz uma falta gigantesca para o fazer cultural. Falta maior
ainda para nossas vidas. Fique bem. Um beijo. Luz e paz.

 

 

Ângulos das minhas memórias:

 

"Ler é um verbo ativo. É um verbo que precisa de um sujeito que quer transformar-se,
que busca transformar-se”. Alberto Manguel, escritor argentino.

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